31 de dez. de 2009

Ópera de pássaros

A objetividade da fotografia é uma falácia.
Erram os que acham que ela retrata o real.


O que há é que quando o fotógrafo diz:

- olha o passarinho!



Uma ave de asas oblongas sai de dentro da câmera com um embornal de pinceizinhos e uma paleta de cores




sobrevoa a cabeça do fotógrafo

sobrevoa a cabeça do fotógrafo



e pousa sobre seu ombro esquerdo.
de lá, pinta a cena.




em suma, a fotografia é uma ópera de pássaros.



Texto: Chacal (Ricardo de Carvalho Duarte), Rio de Janeiro, 1951 - Poeta, cronista e roteirista, participou, nos anos 70, do movimento de poesia independente.
Todas as fotografias são minhas, de 2009. Exceto uma que é de 2008, quando estive no Rio pela primeira vez. Uma transeunte fez o disparo.

20 de nov. de 2009

INSÔNIA

         O que me causa isto? Será meu espírito tão desejoso de respostas para perguntas difíceis, a tal ponto de não arriscar um só segundo desligar-se de tudo. O descanso, essencial para percorrer os dias por essa geringonça orgânica chamada sociedade. Sobrevivo à solidão. Na minha necessidade física de dormir ao mesmo tempo em que também desejo estar acordada. A desordem pode provocar a insônia ao mesmo passo em que também a insônia atrai a desordem.


“Um homem que dorme mantém em círculo em torno de si o fio das horas, a ordem dos anos e dos mundos. Ao acordar consulta-os instintivamente e neles verifica em um segundo o ponto da terra em que se acha o tempo que decorreu até despertar, essa ordenação, porém, pode-se confundir e romper.” (PROUST, 1871/1922, p. 22).






INSÔNIA

Visita indesejada
Daquelas sem pressa de partir
Procuro o céu
Como uma criança
Que em noite de chuva
Corre para a cama dos pais
Ao som do primeiro trovão

Confio em Deus
E procuro proféticos versículos
Que me digam algo de bom,
Talvez uma boa notícia.
Conforto, esperança, sabedoria.

Não sei por quanto tempo ainda
Contemplarão meus olhos
Este quarto escuro
Neste quadrado silêncio
Escuro desse quarto.

Si Borges, Início da primavera em 2009

“A imobilidade das coisas que nos cercam talvez lhe seja imposta por nossa certeza de que essas coisas são elas mesmas e não outras pela imobilidade de nosso pensamento perante elas.” (PROUST, 1871/1922, p. 23)

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Sobre as ilustrações:

Grafite em bastão e uma porção real de desordem na minha vida nesta data em 2006. São os igredientes básicos deste desenho. Não pretendi com ele outra coisa senão transcrever com rabiscos nervosos a atmosfera do momento. As duas ilustrações são a mesma, apenas fiz um recorte fotográfico em close, a meu gosto. Obrigada pela visita. Paz e Bem.

13 de out. de 2009

LAMENTAÇÕES

Esta é minha sobrinha Duda, a me mostrar uma florzinha dodoi. Registrou a Sony CiberShot w215 trabalhando no automático, despretenciosamente. Num dos domingos de setembro, em família.



Criança sábia, que trata cada ser com a singularidade que merece.
Ah se eu pudesse protegê-la
 das descobertas fustigadas
 de dor e sofrimentos.
Tua vida seria só risos e festa.
Mas isto roubaria aprendizado e viver.
Que o inevitável crescer não lhe roube a sensibilidade.





8 de set. de 2009

Natureza In vitro

Câmera: Sony Ciber Shot, H50


Numa visita ao Jardim Botânico em dezembro de 2008,
pendurados e movendo-se apenas com o balançar suave do vento,
encontrei estes "embriões" de clorofila.
Seriam talvez orquídeas,
talvez feijão ou
uma trepadeira na primeira fase da sua existência.
Existir...
é tudo que precisamos
 para ter a chance de
 participar deste espetáculo
 chamado vida.


7 de set. de 2009

Lendo Proust...




Na ordem dos méritos estéticos e das grandezas mundanas, dava eu o primeiro lugar à simplicidade ... (Proust: Em busca do tempo perdido)


 Os lugares que conhecemos não pertencem tampouco ao mundo do espaço, onde os situamos para maior facilidade. Não eram mais que uma delgada fatia no meio de impressões contínguas que formavam a nossa vida de então; a recordação de certa imagem não é senão saudade de certo instante; e as casas, os caminhos, as avenidas são fugitivos, infelizmente, como os anos. (Proust: Em busca do tempo perdido)






Feliz dia 7 de setembro.









     Esta foi uma semana tão dificil que fiquei com a cabeça zonza. E para curar isto passei dois dias e meio, hospedada na casa de um casal de amigos,  isolada das minhas rotinas. Descansei, pensei na vida, dormi, descansei novamente, fiz unha, cabelo e dormi mais um pouco. E voltei pra casa com a idéia de utilizar melhor o tempo, e ocupar-me em alguma coisa mais saborosa, ao invés de quebrar a cabeça para ajudar pessoas que, no final das contas, só precisam delas mesmas. Escolhi atividades em que eu me envolva um pouco mais comigo e minhas idéias. Retornei ao blog. Isto é um exercício: de escrever; de limpar a mente; de produzir, de expressar-me.
     Esta fotografia foi tirada num espetáculo de dança em novembro do ano passado. Gosto dela pela sintonia entre o movimento registrado e o calor das cores.  De alguma maneira esta imagem interage com o meu interior, neste momento em que vivo  um período de caos da minha vida pessoal  e acadêmica. Minhas reações a este momento turbulento conduzem-me  a uma necessária introspecção curativa, na busca de uma harmonia, primeiro interior, para reunir folego e reencontrar alguém que está perdido dentro de mim e que ja não se mostra a muito tempo. Feliz dia 7 de setembro.

Sobre a vida

Escrever sempre me fez bem, mas silenciei minhas publicações aqui desde quando o meu pai morreu em 2012, faz tempo.. mas não parei de e...